Apresentação

Olá,


Bem-vindo! Este é o blog do Programa de Iniciação Artística do CEU Cantos do Amanhecer


"O PIA - Programa de Iniciação Artística - é um programa da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, cuja proposta artístico-pedagógica se destina a iniciar e a despertar o interesse das crianças e adolescentes pelas linguagens artísticas: artes visuais, dança, música e teatro. Neste programa, trabalhamos com interlinguagem, promovendo experiências artísticas com foco na criança e no desenvolvimento de seus processos criativos." (1)


O programa está presente em diferentes equipamentos públicos da cidade de São Paulo, em especial os CEUs (Centros de Educação Unificados) e Bibliotecas públicas municipais. Cada equipamento conta com uma equipe de quatro artistas educadores, cuja formação parte de diferentes linguagens artísticas, e que atuam em duplas, em encontros com as diferentes turmas de crianças.


Fazem parte das ações do PIA encontros semanais com turmas de crianças de 5 a 7 anos, 8 a 10 anos ou 11 a 14 anos, além de ações culturais diversas. Todas as atividades são gratuitas e abertas aos interessados em geral, dentro da faixa etária abrangida pelo programa (5 a 14 anos).





Citações:

(1) Bruno César Lopes, Isabelle Benard, Karin Virginia Giglio e Ricardo Dutra. "No descomeço era o verbo: histórico". Revista Piapuru, 2013.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Chão de estrelas: Selma Aguiar - Biblioteca Marcos Rey



O animismo, dito de maneira bem simples é uma palavra que designa, na psicologia infantil, um modo de ver as coisas do mundo pelas crianças pequenas: trata-se de dar vida aos objetos, de enxergar e se relacionar com a alma das coisas. “Marina Marcondes

Chão de estrelas é uma poética que expressa o território onde toda a criança pode viver, desde que em genuína infância.

Quando as crianças chegam para um encontro no PIÁ começam a remexer e a buscar entre velhas caixas objetos comuns, a espalhá-los, e há em quem observa uma sensação de caos, de “descoerência.”.
Livres, as crianças revolvem caixas e garimpam seus tesouros.
Podem tocar e ser tocada por objetos sejam eles galhos secos, velhos chapéus, panos de ásperas texturas ou macias, metais com seus ruídos, barbantes, cabeleiras, penas coloridas, dentre eles tantos objetos “dispensados”. Elas sempre encontram o que buscam. Depois se vestem com eles ou os combinam criando objetos adequados a suas vivencias, ou com eles constroem suas moradias.
Cada objeto se revela ante seu olhar. E uma vez “escolhidos” começam a integrar um estado que na falta de palavra melhor diríamos: imaginação.
E no seu brincar livre, as crianças, simplesmente incorporam fluxos de sensações e imagens cheias de plasticidade e movimento.
Não é o caso de representar, pois o que acontece é muito diferente de representar, pois trata-se de algo mais íntimo: ser.
Envoltórios de panos começam a surgir. Lugares onde se pode entrar estar, se fechar, se escurecer, conversarem, se arrastar, grunhir, cantar, pulsar, voar.
É no chão que começam a fazer suas “Instalações”.
O que se instala?
-Estados de ser, vivencias reais, relações, contextos, situações.
Seres recém-gerados habitam esses espaços. Vozes, entonações, desejos, prazeres... levezas, memórias. Situações em constante metamorfose.
A criança nem sempre fica muito tempo numa só ideia. Ás vezes fica.
O educador transita nesse espaço que pode ser uma floresta  e de repente encontra um pano verde no caminho. Resolve se vestir e percebe que é um lagarto, mas um lagarto hibrido (lagarto águia) e se movimenta. Logo alguma criança se aproxima e perscrutando esse ser e surge um contexto de coexistência.
O fato de o educador artista ter um grande interesse a tudo o que se relaciona a expressão humana o torna sensível a reconhecer e a ler nas vivencias infantis depoimentos da realidade existencial  daquela criança. Quem é ela, o que deseja o que teme, como se expressa, que imagens carrega etc. Toda criança tem uma riqueza de vivencias, pois independentemente das possibilidades oferecidas em seu “habitat familiar”, pois ela possui um mundo imaginativo próprio e único onde não se economizam imagens, emoções, sentimentos, sensações. E é exatamente esse mundo que ganha expressão no brincar livre.
A característica principal desses “mundos” imaginativo é sua plasticidade: uma coisa se fazendo em outra.   Os objetos externos são instrumentos “secundários” de expressão, ou melhor, matéria prima de expressão. Por isso quanto maior é o estado de sucata do material, (mais ele foi descontruído), mais adequado como  matéria prima para o ato criativo.
Nas mãos da criança performance a obra ainda está por ser feita.
Personagens recém-imaginados se reúnem para construir seu habitat comum: cavernas, cabanas, naves, restaurantes... ou um habitat  que a nada se enquadra, algo como: strofs natus.
O fio condutor de suas fantasias são sensações, sentimentos, impulsos, desejos.
A linguagem desse diálogo entre crianças e educador são as poéticas e performances de ambos. Nessa troca justa há um potencializar, compartilhar, comover-se, refazer-se, conhecer-se, um completar-se. Na expressão do educador  está implícito o caminho já trilhado, habilidades inclusive a de facilitador de processos.
O educador olha para a criança (as), contempla suas vivencias e “vê” a criança performer, revelando como ator social seus sentimentos, quereres, afetos, desafetos, buscas bem como daqueles com os quais convive. Algumas vezes revela até o seu quartinho escuro.

“Tudo é autobiografia” José Saramago

Observar uma sala de crianças no PIÁ é ver tudo isso acontecendo ao mesmo tempo.
...Um grande espaço de relações. Um grande espaço de ser.
O chão seja ele de piso ou de barro se transforma num céu repleto de crianças estrelas levitando num espaço “cósmico” de suas imaginações.·.
E depois de muito brincar, sem perceber tempo quase nenhum passar, todos caem exaustos no chão.  
E cada objeto vai sendo retirado e guardado voltando a ser um objeto da caixa ou do armário e se “esquecendo” do que foram.
Depois forma-se uma roda de olhares e todas, uma a uma, contam o que viveram, e o que  aconteceu. É  a hora do compartilhar: falar e ouvir.
E quando falam se ouvem e se reconhecem naquilo que viveram. Estruturam e fortalecem seu pensar e mais que isso: sua individualidade. E quando ouvem o colega se encantam com as vivencias que em alguns momentos não foram suas, mas que lhe sugerem tantas outras sensações.
Assim as vivencias se integram numa grande história. Essas criações podem ressurgir em outros momentos como desenhos, pinturas ou colagens em outras tantas materialidades sugeridas pelo educador ou por elas mesmas.
O encontro vai chegando ao fim, mas ninguém quer se despedir daquele estado de ser e o “educador” não pretende interromper o que da criança se manifesta. “Todos se levantam e dão as mãos na tentativa de se tonar um único ser gerando palavras representativas do encontro: alegria, cabana, correr, dragão, etc.”.
Depois todos correm para o centro da roda e em uníssono, repletos de sensação e entusiasmo, gritando: _ALERRAP! ( ou outra palavra escolhida)
Essa ação energética se repete por mais vezes.
E então as crianças, completamente felizes, correm para suas mães e pais.
Esse é um exemplo de um dos dias de encontro no PIÁ. Esse formato muda, mas os princípios que norteiam são os mesmos como a autonomia criativa da criança.
E em reuniões de pais não é raro eles dizerem que ao vir buscar seus filhos o que levam pra casa é um pirata, ou um ser hibrido de nome estranho; e que quando em passeio ou nas compras se surpreendem vendo seus filhos se movimentando, às vezes dançando – interagindo com o ambiente. E que objetos da casa viram cabanas e objetos lúdicos. Que estão mais soltos, mais sociais, mais felizes.
Nós, educadores, aliviados, sorrimos.

Bibliografia

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Contorno (2)

"Minha arte se baseia na crença de uma energia universal que corre através de todas as coisas (...). Minhas obras são as veias de irrigação desse fluido universal. Através delas ascende a seiva ancestral, as crenças originais, a acumulação primordial, os pensamentos inconscientes que animam o mundo. Não existe um passado original que se deva redimir: existe o vazio, a orfandade, a terra sem batismo dos inícios, o tempo que nos observa desde o interior da terra. Existe acima de tudo a busca da origem."

Ana Mendieta (1)

Inspiração, ponto de partida: Série "Silhuetas", da artista cubano-americana Ana Mendieta (1948-1985)





Trabalhos da série "Silhuetas" (1973-1980), Ana Mendieta.











































Citações:
Ana Mendieta, citada em https://www.youtube.com/watch?v=VgaLCZvLI_w&list=PLDDBA784CD4834F11

Links com informações sobre Ana Mendieta
http://entretenimento.uol.com.br/27bienal/artistas/ana_mendieta.jhtm
http://www.theguardian.com/artanddesign/2013/sep/22/ana-mendieta-artist-work-foretold-death
http://www.moca.org/pc/viewArtWork.php?id=87
http://vivalavulva.wordpress.com/2010/07/23/ana-mendieta/
http://www.artinamericamagazine.com/news-features/news/ana-mendieta/
http://www.artinamericamagazine.com/news-features/interviews/the-untold-ana-mendieta-/

Contorno (1)

"É que a sutileza, assim como a delicadeza, é fértil; elas sempre gestam outras falas e atos. São portanto coletivas e indicam passagens, criam envelopes, epidermes capazes de amaciar certos contatos e iniciar o corpo para a vida junto a muitos outros. A delicadeza constituinte do gesto sutil é iniciadora."

Denise B. Sant'Anna. (1)












Citações:
(1) Sant'Anna. Corpos de passagem: ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001, p. 125.